domingo, abril 11, 2010

ADEUS

Já gastamos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não basta
para afastar o frio de quatro paredes. Gastamos tudo menos o silêncio. Gastamos os olhos com o sal das lágrimas, gastamos as mão à força de as apertarmos, gastamos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis. (...) Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro! Era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. (...) porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. (...) Já gastamos as palavras. Quando agora digo: meu amor..., já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. Eugénio de Andrade

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