segunda-feira, outubro 23, 2006

Essa Dor

Se ao menos esta dor servisse se ela batesse nas paredes abrisse portas falasse se ela cantasse e despenteasse os cabelos

se ao menos esta dor se visse se ela saltasse fora da garganta (como um grito) caísse da janela fizesse barulho morresse

se a dor fosse um pedaço de pão duro que a gente pudesse engolir com força depois cuspir a saliva fora sujar a rua os carros o espaço o outro esse outro escuro que passa indiferente e que não sofre tem o direito de não sofrer

se a dor fosse só a carne do dedo que se esfrega na parede de pedra para doer doer visível

doer penalizante doer com lágrimas se ao menos esta dor sangrasse.

Manuel Bandeira

Se ao menos a dor se visse, se tocasse, se cheirasse, talvez quem não a sente a sentisse real, acreditasse nela. Porque a dor não deita sangue, mas derrama a alma. Porque a dor não rasga a carne, mas dilacera o coração. Porque a dor não é um vidro que corte, mas uma dor afiada no ser. Porque a dor não está nas lágrimas, está no ser. Porque a dor não é visivel aos olhos, mas pode ser vista através deles. Não se deve julgar a dor de ninguém, porque todos reagimos de formas diferentes a cada situação. Aquilo que para mim é insignificante, para ti pode não ser. A dor não se pode dividir, mas pode aliviar-se através de um abraço, de um colo, de palavras, mas muitas vezes são os gestos no silêncio aqueles que mais ajudam. Como diz a frase, "As minhas melhores palavras foram ditas no silêncio".

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