quarta-feira, outubro 18, 2006

Se eu guardo algum segredo em discrição, em versos, tento, aqui, me desvendar. E rimo linhas de revelação com a noite escura a me testemunhar. É fato: durmo e acordo em tua intenção, por mais que eu insista em relutar. E, similar a um vício, uma compulsão: fraquejo e, a ti, eu volto a me entregar. Depois, recebo uma dupla punição: enquanto, eu faço par com a solidão, tu és de outra, ainda, sem pesar. Então, encarno uma ré em confissão e rogo pela minha absolvição de tal pecado cego: o de te amar. ______________________________ "Então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteira nas coisas que me contas, e assim calada, e assim submissa, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és..." (Adaptado de 'À beira do mar aberto' de Caio Fernando Abreu)

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